Santos,
a cidade nº 1 na melhor idade
Estudo
considera município litorâneo o melhor para se viver no País quando se passou
dos 60
Luiz
Alexandre Souza Ventura, Especial para O Estado
18 Março 2017 | 03h00
De
Minas para o mar. ‘O céu ainda está clareando e já estou na praia’, conta Maria
do Rosário Evangelista, de 76 anos
Foto: DAVI RIBEIRO / ESTADAO
As caminhadas à beira-mar, nas primeiras horas da manhã, são sagradas para Maria do Rosário Evangelista, de 76 anos. “O céu ainda está clareando e já estou na praia”, comenta a aposentada, que nasceu em Coronel Xavier Chaves, na região de São João Del Rei - a 174 quilômetros de Belo Horizonte (MG) -, e mora em Santos, no litoral sul paulista, desde 1997.
Maria conheceu o município paulista muito tempo
antes de deixar para trás a terra natal. “Toda vida gostei daqui”, diz. Ela faz
parte de uma população que encontrou na Baixada Santista muitas qualidades para
uma vida saudável.
Andar na praia é certamente a atividade mais
praticada, mas outros detalhes atraem cada vez mais a atenção de mulheres e
homens, representantes da geração sênior - ou a terceira idade -, que busca
bem-estar. Atualmente, entre os 434.359 habitantes de Santos, 80.353 têm mais
de 60 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Muitos, a exemplo de Maria do Rosário, decidiram carregar “mala e cuia” para
aproveitar o que a cidade oferece.
O Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade
(IDL) - iniciativa do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e da Escola de
Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EAESP) -
considerou Santos a melhor cidade no Brasil para se viver após os 60 anos. Florianópolis,
Porto Alegre, Niterói, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Jundiaí,
Americana, Vitória e Campinas também estão na lista. O estudo usou uma
metodologia inédita, com o cruzamento de 63 indicadores divididos em sete
variáveis (indicadores gerais, cuidados de saúde, bem-estar, finanças,
habitação, educação e trabalho, cultura e engajamento), de 498 cidades
brasileiras de grande e pequeno porte, avaliando até o clima.
O trabalho durou 14 meses, de julho de 2015 a
setembro de 2016. “Um dos principais objetivos da pesquisa é mostrar ao gestor
público que a cidade tem qualidades, mas também pode melhorar em muitos
aspectos”, explica Antônio Leitão, gerente do Instituto de Longevidade Mongeral
Aegon.
Santos teve destaque na economia por apresentar um
pequeno porcentual da população com baixa renda, também pela elevada nota em
cultura e engajamento e por ser uma das cinco com melhor nota em bem-estar. “O
fato de Santos liderar o ranking não significa que a cidade não tem problemas”,
afirma Leitão. “A desigualdade na distribuição de renda é um fator que merece
atenção. E, uma vez que o município é líder no índice de envelhecimento, é
necessário ampliar a oferta de condomínios residenciais para idosos”, diz o
gerente.
Três rankings foram elaborados. Um para o
envelhecimento da população em geral, outro para pessoas com idade entre 60 e
75 anos e o terceiro para aquelas acima de 75 anos. Para Ana Bianca Flores
Ciarlini, coordenadora de Políticas da Pessoa Idosa da Prefeitura de Santos,
não é surpresa que a cidade esteja no topo dessa lista, mas sim fruto de um
trabalho voltado especificamente para essa população. “Nós temos diversos
programas e ações instaladas em várias secretarias, centros de convivência com
atividades ao longo de todo o dia e o Espaço do Idoso, onde oferecemos 30
modalidades. O atendimento foi ampliado neste mês e passamos a receber mil
pessoas diariamente”, diz a coordenadora.
A base, explica Ana Bianca, é o conceito do
envelhecimento ativo. “Abrimos vagas para cursos de educação financeira,
fotografia, arteterapia e outras disciplinas. A cidade mantém atividades
esportivas na praia, principalmente na água, e também nos postos dos bombeiros
ao longo da orla. E estamos elaborado uma pesquisa sobre o trabalho de
mindfulness (técnica de meditação).”
Opções. Qualidade de vida nem sempre precisa
estar diretamente ligada ao que você gasta, ou investe, para manter um bom
padrão de vida. Para a aposentada Mariza Pereira de Castro, de 72 anos, que
nasceu em Santos e trabalha como auxiliar de secretaria na Universidade Santa
Cecília (Unisanta), tirar o máximo proveito dos equipamentos públicos é uma
forma inteligente de usufruir o que a cidade oferece sem pagar mais por isso.
“Aqui tem muita coisa grátis que podemos aproveitar, como shows na Concha
Acústica, apresentação de chorinho em frente ao Aquário Municipal, exposições e
apresentações na Pinacoteca Benedito Calixto e o cinema do Posto 4. Penso que
existem muitas oportunidades para diversão sem gasto”, afirma.
Já o motorista aposentado Paulo Deolindo
Apolinário, de 74 anos, destaca os serviços de saúde e transporte. Após deixar
ainda jovem o município de Luisiânia, no interior paulista, onde nasceu, e
trabalhar a maior parte da vida em São Paulo, ele foi convencido pelos filhos a
morar na praia. “Cheguei em Santos há seis anos e não penso em sair daqui.”
A rotina diária de Apolinário é agitada. “Ir
somente à praia enjoa, então, eu participo de todas as atividades que a
Prefeitura fornece. Faço exercícios, danço, sou voluntário em projetos
municipais, vou muito aos clubes, principalmente ao Rebouças e ao Espaço do
Idoso”, diz. “Só falta aqui um espaço maior para bailes, para quem gosta de
dançar.” Ele elogia o transporte público e os serviços de saúde. “Uso tudo
público.”
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário