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sábado, 2 de dezembro de 2017

Entenda como funciona o despejo de esgoto por emissários submarinos

Entenda como funciona o despejo de esgoto por emissários submarinos

Tecnologia é utilizada em diversos países para escoar efluentes tratados   

12/10/2013 05h46 - Atualizado em 14/10/2013 10h11              

Em cidades urbanas que crescem progressivamente, o escoamento adequado do esgoto é sempre uma problemática em discussão. O emissário submarino é um exemplo de tecnologia  de descarte pensada principalmente para cidades ricas em recursos hídricos. “O emissário é um tubo que transporta efluentes do local onde ele é recolhido para um local de descarte”, explica Paulo Rosman, professor de engenharia costeira e ambiental do instituto Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Emissário submarino da Barra da Tijuca no Rio de janeiro (Foto: Divulgação/ CEDAE)

Apesar de ser uma técnica polêmica e que levanta a desconfiança especialmente de ambientalistas preocupados com possíveis contaminações, Rosman afirma que os emissários são excelentes soluções de descarte final do efluente tratado. O professor ressalta que esta tecnologia não foi elaborada para descartar esgoto na natureza, mas sim resíduos deste material após um processo de tratamento adequado. “Teoricamente, não se joga esgoto no mar com os emissários e sim água. O esgoto é 99% composto dessa substância. Em geral ele passa por um processo de tratamento prévio que remove esse 1% que não é água. A opção mais viável em locais onde não se tem carência hídrica é descartar esse efluente de volta para a natureza”, explica.

Os riscos oferecidos por esse processo são os de contaminações por bactérias provenientes dos dejetos despejados no esgoto. Rosman explica que os materiais orgânicos e patogênicos não ameaçam o meio ambiente, mas podem prejudicar zonas que são próprias para banho. Para evitar que os banhistas sejam afetados, o especialista afirma que são necessários estudos de condições locais que definam a distância ideal para o despejo do efluente, considerando a possibilidade, ainda que remota, do material atingir a costa já com sua matéria diluída e bactérias mortas por ações do meio ambiente.
O primeiro emissário submarino construído no Brasil funciona até hoje em um cartão postal do Rio de Janeiro, a praia de Ipanema. Inaugurado em 1975, o duto possui 3,6 km de extensão da costa até seu ponto final em alto mar, onde estão localizados 180 difusores, furos que possibilitam o despejo descentralizado. São drenados por ele 7 mil litros por segundo de efluentes, 5 mil litros a menos de sua capacidade total . A área de influencia do emissário submarino de Ipanema contempla toda a zona sul da cidade mais o bairro de São Conrado.

Jorge Briard, diretor de produção e operação da CEDAE- Companhia Estadual de Águas e Esgotos responsável pelo emissário submarino, explica que o único tipo de tratamento preliminar feito no esgoto lançado em Ipanema é o gradeamento. “Na época em que o emissário iniciou suas operações a legislação vigente dizia que ele poderia servir de dispositivo de esgotamento em um ponto que não causasse impactos. Por isso, o esgoto é gradeado e o material grosseiro é retirado. Não há tratamento para a redução de carga orgânica”, diz. Briard afirma que a construção de uma estação de tratamento na zona sul nas proporções necessárias seria inviável, e defende que desde 1975 o esgoto lançado não apresenta um comportamento que ameace a zona de banho.

A falta de um tratamento mais intensivo do esgoto despejado em Ipanema é para o professor de engenharia da UFRJ uma “vergonha total”. “Pela constituição é obrigatório ter um tratamento prévio que remova o lixo de todos os tamanhos. Como não há nenhum tratamento de resíduos miúdos, absorventes, cotonetes ou preservativos, por exemplo, não são filtrados. Isso é um absurdo”, declara. Rosman sugere que se construa uma estação subterrânea de peneiramento progressivo para a remoção de resíduos e óleos. “Eu entendo que não é possível fazer uma estação de tratamento como a da Barra da Tijuca, mas uma estação de peneiramento progressivo poderia ser feita perfeitamente” defende.

O emissário submarino da Barra da Tijuca, também situado no Rio de Janeiro, foi inaugurado em 2006 sob responsabilidade da CEDAE. Diferente de Ipanema, o esgoto despejado na Barra passa uma estação de tratamento primária em que todo o lixo é recolhido e a carga orgânica reduzida. O emissário possui 5 km de extensão e drena em média 1.600 litros por segundo. O diretor de produção e operação da CEDAE afirma que um monitoramento preventivo é feito na região duas vezes ao mês para garantir que não haja qualquer tipo de impacto na zona dos banhistas.
Emissário submarino de Santos
(Foto: Divulgação/ Sabesp)
A tecnologia de emissários submarinos é utilizada em diversos países no mundo como, por exemplo, a Inglaterra, que possui em sua costa mais de dois mil emissários. O Brasil possui apenas vinte deles localizados principalmente em regiões costeiras. A cidade de Santos, situada no litoral de São Paulo, teve seu emissário inaugurado em 1978 por ser a melhor opção para o escoamento de esgoto para a região. “Estamos cercados por mangue e a falta de área dificulta a construção de outro tipo de tratamento” explica Wilson Bassotti, engenheiro da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo- Sabesp, responsável pelo emissário.

Antes de ser lançado na baia, o esgoto escoado pelo emissário de santos passa por um processo de pré tratamento equipado com sistemas de gradeamento, micropeneramento, desarenação e desinfecção.
 
  • Bassotti afirma que hoje, 100% do esgoto coletado é tratado. 
  • O duto do emissário possui 4,25 km de extensão e 
  • escoa um volume de 5,3 mil litros por segundo.


Dados de monitoramento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo alertam que o emissário de santos estaria lançando ao mar alta quantidade de fósforo e nitrogênio, substâncias que estimulam a proliferação de algas tóxicas. Bassotti reconhece que o processo de multiplicação destas algas existe, no entanto, afirma que nada comprovou ser culpa do emissário. 
“Além de ter pré-tratamento, o emissário tem controle de dispersão, ao contrário de esgotos clandestinos que são lançados no mesmo meio”, afirma. Sobre os problemas de poluição em certas praias de Santos, Bassotti declara: “Hoje posso afirmar que não tem qualquer relação com o esgoto lançado pelo emissário. As praias de Santos se por ventura não estão balneáveis é pela poluição difusa, ou seja, pela quantidade de sólidos na baia.

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